Era para ser só uma brincadeira. Uma raquete, uma bolinha e um convite despretensioso: “Vem jogar com a gente!” Não exigia uniforme, nem equipamento caro. Apenas disposição, uma raquete e um par de chinelos. Mas é aí que começa o perigo, o primeiro passo rumo ao buraco negro do beach tênis.
No início, você aparece meio tímido, achando que é só uma nova forma de exercício. Um bate-bola no final da tarde para relaxar, como quem caminha no calçadão ou dá uma volta na praça. O sol se põe, as luzes da quadra acendem, e o buraco negro começa a puxar. “Vamos bater mais um play?” – alguém sugere. E, antes que você perceba, está de volta no dia seguinte.
De repente, não é mais só um bate-bola. É um treino. Aquele saque que parecia inofensivo agora precisa ser lapidado. E lá está você, assistindo vídeos no YouTube, estudando ângulos, aprendendo termos como “ponto de ouro”. Até o algoritmo do Instagram entra no jogo: sua timeline já está cheia de lances incríveis, você segue os melhores jogadores do mundo e da sua cidade, e não perde uma atualização.
A rotina se intensifica. Agora, você participa de torneios e perde o final de semana inteiro entre jogar, assistir aos jogos dos conhecidos e torcer pelos amigos da turma. Quase todos os atletas de destaque já são rostos familiares. De um jeito ou de outro, você está no meio desse universo, absorvido pelo vórtice do esporte.
Mas, entre uma pancada e outra na bola, algo muda. O corpo reage. A calça que apertava agora está mais folgada. A balança, antes evitada, agora vira um lembrete de que todo aquele esforço tem um impacto real. Quase sem perceber, você perdeu quase 10 quilos no último ano. A saúde melhora, a energia aumenta, e até o fôlego – antes um adversário nas primeiras partidas – agora joga do seu lado.
E não é só sobre o jogo. É sobre a turma, as risadas na quadra, as conversas descontraídas no bar depois do treino. O beach tênis não é apenas esporte, é um universo social que te abraça – ou melhor, te suga. Você começa a marcar jantares, happy hours, viagens com a galera do beach. Tudo é motivo para estar junto, e quando você menos espera, sua agenda está preenchida de areia, sol e amigos.
Mas o buraco negro não é malicioso. Ele só te puxa porque você quer ser puxado. Há algo de mágico na simplicidade do jogo, no som da bolinha batendo na raquete, no prazer de melhorar um pouquinho a cada dia. O problema é que, quando você olha ao redor, percebe que todo o seu tempo e energia estão orbitando aquele ponto. E a vida além da quadra? Está lá fora, esperando, mas é difícil sair.
Ainda assim, o saldo é positivo. Porque além do jogo, das amizades e do buraco negro, há o reflexo no espelho: um corpo mais leve, uma saúde renovada e a certeza de que, ao se deixar levar pela areia, você se reencontra em movimento.
O segredo talvez seja encontrar o equilíbrio. Aproveitar o mergulho no buraco negro, mas lembrar que há um universo além dele. Porque o beach tênis, no fundo, não quer te consumir. Ele só quer te ensinar que, na vida, assim como na quadra, tudo é uma questão de escolha: a força do saque, o ângulo do golpe, o tempo dedicado ao que realmente importa.
E então, você bate o último play do dia, recolhe a raquete e respira fundo. Lá fora, o mundo continua girando, mas dentro do buraco negro, tudo parece mais simples, mais leve – como um grão de areia que dança ao sabor do vento.
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